quarta-feira, 21 de abril de 2010

Alguém em QAP - Jornal Pioneiro 17/04/2010

Matéria publicada no Jornal Pioneiro de Caxias do Sul, RS, em 17 de Abril de 2010


– PY3 Sierra Golfe, alguém em QAP?

É com essa frase que o radioamador Adair Souza Goulart, 59 anos, se identifica a cada vez que sintoniza uma estação no aparelho instalado na sala de casa. E é por meio de códigos como esse que ele conduz as conversas com radioamadores de outras cidades e até de fora do Brasil.

No radioamadorismo, os usuários não se identificam inicialmente pelos seus nomes de batismo, mas pelos códigos obtidos ao registrarem-se junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Goulart, por exemplo, é PY3SG, lido como PY3 Sierra Golfe. Ao perguntar se algum outro usuário está “em QAP”, por exemplo, ele quer saber se há alguém na escuta, disponível para conversas via rádio.

Ao se apresentarem via prefixos, os usuários evitam que pessoas não filiadas à Anatel utilizem o sistema de comunicação. Ou seja, os radioamadores não podem conversar com quem acessa a frequência sem possuir um prefixo.

– Para ser radioamador é preciso fazer um curso e um exame teórico e prático. Só então recebemos o nosso prefixo – sinaliza Goulart.

Ele explica que o radioamadorismo não é profissão, mas uma atividade de lazer, que neste domingo tem uma data especial: é celebrado o Dia Internacional do Radioamador.


Atividade que gera fascínio

Usar o radioamador para se comunicar com todo o mundo e até poder auxiliar em pedidos de socorro é um dos aspectos que gera fascínio pela atividade. Goulart conta que um dos episódios mais marcantes nas suas mais de quatro décadas de radioamadorismo foi o contato com a tripulação de um navio em guerra. Foi em 1982, quando conversou com homens a bordo de uma embarcação argentina, durante a Guerra das Malvinas.

– Eu sintonizei a frequência e tinha dois argentinos falando. Eu me identifiquei e perguntei se estavam em um veleiro e eles me disseram: “estamos em um vaso de guerra” – lembra.

Ele também destaca a ocasião em que conseguiu ajudar na prisão de dois assaltantes. Numa madrugada, Goulart conversava com um taxista de Caxias que, via rádio, dava indícios de que seria assaltado:

– Ele dizia que estava indo para Farroupilha, levando dois homens. Eu imaginei que fosse assalto e liguei para o 190 (Brigada Militar). Os bandidos foram presos ainda no táxi.

Goulart entende que o radioamador não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas uma forma de ajudar pessoas:

– Afinal, estamos sempre na linha de frente.


 PY3SG Adair




       Representação em Caxias do Sul:

  • Um dos clubes que representa o radioamadorismo em Caxias é o PX PY Clube Caxias do Sul. Com sede no bairro Santa Corona, atualmente a agremiação realiza atividades esporádicas. No ano passado, rádios e computadores foram roubados e, por causa dos baixos rendimentos, o clube não conseguiu adquirir novos. Além disso, há poucos sócios.
    – Temos em torno de 15 associados. Há cerca de 10 anos, chegamos a ter mais de 100 – lamenta o radioamador e presidente, Nelson Franco de Melo, 58.

    Ele atribui o baixo número de sócios ao fato de que a maioria dos adeptos monta as suas estações em casa. Para Melo, no entanto, a atividade tem grande importância:

    – Se falharem todos os outros meios de comunicação, é o radioamador quem vai servir à comunidade.

    Em Caxias também há o Clube Rádio Amador Caxiense, no bairro Cinquentenário.



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